Assim como Adão cedeu uma costela para criação de sua Eva, eu doei a idéia do abadá para o Bloco Eva. Com o perdão da brincadeira, foi o bloco Eva que me proporcionou um das realizações mais transformadoras, como criador, nessa grande festa baiana: alterar um dos ícones do Carnaval de Salvador: a “mortalha”, espécie de túnica utilizada pelo folião.
No episódio da ida da Banda Asa de Águia para o bloco Eva em 1993, Durval Lelys sugeriu que o bloco me contratasse para desenvolver os trabalhos de design e publicidade. Numa reunião posterior com Hunfrey, diretor do bloco, ele me perguntou se eu tinha alguma idéia guardada e de pronto lhe falei sobre encurtar a mortalha. Ele ponderou dizendo que já tinham feito pesquisas com os foliões e eles reagiram negativamente à mudança. Questionou também sobre a parte de baixo, como ficaria, e eu lhe disse que poderíamos utilizar um short para compensar o encurtamento da fantasia. Para minha surpresa, considerando que eu já tinha ofertado a idéia aos blocos Pinel e Beijo, dois clientes tradicionais meus, ele topou na hora. Me pediu apenas exclusividade e sigilo e me disse algo assim: só existem duas situações em que podemos ousar: quando somos os piores, porque ninguem vai ligar, ou quando somos os melhores, porque ninquem vai reclamar. Claro, ele encaixava o Eva e o Asa na segunda hipótese.
Durante o desenvolvimento dessa nova fantasia, me veio a idéia de homenagear a capoeira e meu amigo Mestre Sena. Pensei em imitar a roupa com que se joga essa luta: o abadá. Durante o processo, porém, por conta de custos, viabilidades, etc, a idéia migrou para outro conceito, mas continuei chamando o projeto sigiloso de “abadá”. Já perto do carnaval, Durval me perguntou se a tal novidade tinha um nome, eu falei que chamava o projeto de “abadá”, e ele criou uma música que ajudaria a imortalizar a nova fantasia. No ano seguinte, todos os blocos passaram a utilizar o abadá.
Nas fotos acima, as costas do primeiro abadá e a fantasia já no gosto da galera feminina que se livrava, definitivamente, daquele pano imenso da mortalha. Um outro detalhe inovador foi que a estampa na altura do peito era personalizada de acordo com o signo do folião, algo quase impossível de se propor hoje em dia. Como curiosidade, a palavra “abadá” é de origem iorubá e significa “camisa”, portanto, nada mais pertinente. Abaixo, uma foto de Hunfrey, o cara que acreditou, brigou e viabilizou a idéia do abadá.
Uma mudança que marcou definitivamente o carnaval. Lembro que existia uma discussão entre o nome “pra pular” ou “Abadá”… Algo assim… Terminou prevalecendo o Abadá, acertadamente. Ali começava uma mudança visual de grandes proporções no carnaval da Bahia e depois correu o Brasil inteiro. Pedrinho tem direito a comissão de várias estamparias por ai…. rsss Parabéns meu amigo!
Pô, Afranio… ja pensou se essa galera me pagasse comissão? ôpa!!!
Novidade dada em primeiríssima mão pelo “Komogwy News”..rsrsrsrsr
porra, Guto… vc foi longe. Acho até que essa sua vocação editorial vem daí.
Você acha que eu iria esquecer a sua ira com meu “furo jornalístico”..rsrsrsrs. Vale ressaltar para os que não sabem que naquela época eu ainda não era “bloqueiro” e nem frequentava o escritório de Pedrinho.
O que seria de nós foliões sem essa incrivel indumentária? Guardo todos eles, e a maioria é criação de quem??? rsrs. Só esse ano foram 5 ( Cerveja & cia/Papa/ Cheiro). Parabens por tornar o Carnaval mais bonito e colorido.
Pedrinho vc é um cara de visão, parabéns pelo seu trabalho!
esse blog eh muito bom!