Arquivo da categoria: Minha Rua

esse espaço é dedicado para uns que, como zumbís em cores pastéis, teimam em sobreviver não mais na esquina entre a Rua do Salete e o Beco da Alegria, mas nas dobras de minhas veias, constituindo o soro que me alimenta e me engana com as cores de um mundo que, talvez, nunca tenha existido.

O Carnaval era fantasia…

Palhaços no Carnaval de Salvador - eu e meus irmãos

Eu, David e Paulinho, irmãos palhaços no Carnaval de Salvador.

Mais uma tirada do fundo do baú: eu e meus dois irmãos no quintal da casa de um tio, na Avenida Sete, durante um carnaval de meados dos anos sessenta.  Sou o primeiro à esquerda da foto, com cara de sem graça. Na verdade, não gostava de me fantasiar. Era extremamente tímido e desconfiado de estar pagando mico, mas minha mãe exercia toda sua criatividade nessas fantasias… vem daí minha herança… ela fazia com muito carinho e, hoje, me arrependo de não ter curtido e valorizado mais seu esforço para nos alegrar. Por ironia, estou há 30 anos criando fantasias para os outros… diria que em cada uma delas tem um pouco de Dona Norma.

Ecologicamente correto em 1983.

Arte Bloco Traz-osMontes 1983

Ilustração criada em 1983 para o Bloco Traz-os-Montes.

“Preserve o verde para outros Carnavais”, era a frase estampada na arte criada para o carnaval de 1983 do Bloco Traz-os Montes. Alguém da diretoria me perguntou o por que daquela frase e não tive coragem de argumentar: senti que meu tema soou um tanto exótico e fora do tom, na época. Não havia o atual apelo midiático. Mas, mesmo assim, eles aprovaram a idéia e imprimimos os “plásticos”, para divulgação, e as fantasias do bloco. Quase 30 anos depois, vejo com prazer, mesmo que tardio, o carnaval baiano começar a esboçar ações nesse sentido. Até por se tratar de uma festa de grande apelo popular, o carnaval é espaço perfeito para difusão e conscientização de temas como preservação do meio-ambiente. Que venha um novo tempo, e os próximos carnavais.

Abaixo, da esquerda para direita, Zé Pedro, Alcides, eu sentado no carro, Aninha e David, todos  com o “macacão” do Traz os Montes que tinha a ilustração acima.

Galera com o macacão do bloco Traz os Montes

Eu e a turma com o "macacão verde" do Traz os Montes.

Minhas influências e outros bichos…

Sambista do Crocodilo

Esboço e ilustração para abadá do Crocodilo no carnaval 2006.

Dotô Fernando Diniz, advogado, escritor e desenhista, era pai de Alcides, amigo meu, e vizinho de rua. Vê-lo desenhar paisagens com caneta Bic preta foi meu primeiro contato com um grande artista. Mas tarde, já no carnaval, pintava os trios elétricos do Chiclete inspirado nos “desenhos poesias” do grande cartunísta Nildão. Suas cores e traços marcaram definitivamente meu trabalho. Em seguida, mergulhado no mundo mágico da aerografia, vivia olhando as ilustrações de Bel Borba pra ver se pegava alguma coisa. Na publicidade, João Silva foi minha referência como diretor de arte, e Bonetti, meu amigo redator, me deu régua e compasso nessa “arte” que até hoje me é estranha. Sempre admirei também o trabalho de Juarez Paraíso e sua arte curvosa, infinita em mistérios. Por fim, minha influência maior foi minha mãe que, mesmo sem grana, sempre dava um jeito de decorar nossos aniversários. Era uma festa… foi isso.

A ilustração dos sambistas acima foi uma solicitação de Daniela Mercury para homenagear ritmos brasileiros nos abadás do bloco Crocodilo, no carnaval 2006.

Os “Caretas” nos velhos Carnavais de Salvador.

Caretas no Carnaval de Salvador 1953

Em frente a casa de meu avô, "caretas" no carnaval de 1953.

Essa foto faz parte da coleção “do fundo do baú”, de minha família. No grupo de mascarados – ou “caretas” – estão meus tios Guilherme e Hortência, que também aparecem em outro post aqui no blog. Ao fundo, a casa onde nascí no bairro dos Barris, em Salvador. O casal na janela é meu avô Antonio e avó Beatriz. A imagem retrata o carnaval de 1953, muito antes de eu nascer, é claro, rsrsrsrs. Mas já mostra o DNA.

A casa com janela redonda e vitrais coloridos fez parte do meu imaginario infantil e me influenciou estéticamente. É uma mostra de como, na Salvador antiga, mesmo as casas mais simples, traziam arte e cultura em sua arquitetura.

Esse retrato foi da coleção de meu tio Guilherme, grande folião e fotografo amador, que, além de saudades, deixou um bom arquivo fotográfico sobre nosso carnaval.

Origens, do fundo do baú.

Foto de meus tios no Carnaval de Salvador

Meus tios (os 2 acima e a esquerda) em frente a minha casa. Anos 60.

Por vezes me questiono porque entrei nessa de carnaval. Revendo fotos do passado da família, porém, encontro alguma justificativa. Meus tios Guilherme e Hortência, foliões inveterados, organizavam grupos de mascarados que se reuniam em frente a nossa casa antes de seguirem para a Avenida. Observando a foto acima, onde eles aparecem no canto esquerdo superior, (a casa do fundo era a minha) é difícil imaginar que assim era o carnaval de Salvador nos anos 1960. Ainda criança, recebí e conviví com essa herança. Mais tarde, adolescente, nos divertíamos em pequenos blocos como o Filhos de Oligo, que saia do meu bairro, os Barris, passando em frente à minha casa em direção a Avenida Sete (foto abiaxo). A mortalha era ridícula, mas a farra inesquecível.

Eu no bloco Filhos de Oligo, passando em frente a minha casa.

Eu e o bloco Filhos de Oligo na minha rua.