Arquivo da categoria: Trio Elétrico

Criado na Bahia, pela dupla Dodô e Osmar, para se divertirem no carnaval de 1950, o Trio Elétrico é uma invenção revolucionária que evoluiu e ganhou novas funções, tornando-se hoje, principal instrumento de divulgação da chamada axé music.

Encontros de Trios – muito mais que 30 anos.

Encontro de Trios - Moraes

Os encontros de Trios existem há muitos anos, desde os anos 1970. Mas não havia o cantor, eram só os intrumentos de corda. Moraes Moreira trouxe a voz para o trio. Mas só à partir de 1980, quando o trio ganhou qualidade de sonorização, com os amplificadores transistorizados do Trio Traz-os-Montes e também os Novos Baianos, é que esses encontros passaram a despertar mais a atenção do público.

O Trio do Traz-os- Montes, o de Armandinho Dodô & Osmar, o Tapajós, os Novo Baianos e mais tarde o Eva, Camaleão, Novos Bárbaros, Pinel, Beijo…  duelavam com seus cavaleiros armados com guitarras baianas. O público apreciava mais o guitarrista do que o cantor.

Pepeu Gomes, Aderson que era da Banda Scorpius e foi pro Eva, Missinho que entrou no lugar de Aderson na Banda Scorpius que virou Chiclete. Até Robertinho do Recife tocou por aqui. Mas ninguém se igualava ao maior dos mestres. O infalível, que nunca errava uma nota: o mestre Armando Macedo.

O carnaval no Clubinho e os artistas mirins..

Olhe o detalhe da cabine...

Olhe o detalhe da cabine…

Desfile de artistas...

Desfile de artistas…

Metaleiro...

Metaleiro…

para todos os gostos...

para todos os gostos…

Olha a fila...

Olha a fila…

Cultura é aquilo que a gente faz.  Partindo dessa premissa, me surpreendi mais uma vez com a criatividade da criançada – e de seus papais e mamães inspiradores – durante a Semana de Arte da escola Clubinho das Letras. Dentre os vários temas da Mostra, existe um espaço sobre o carnaval, e foi, justamente nele, que fiz as fotos à seguir. É impressionante como nossas vivências ficam impressas como digitais afetivas por toda nossa vida e, por fim, as tranferimos para outras gerações que farão suas próprias leituras. Isso, queira-se ou não,  é cultura.

Parabéns aos alunos, esses pequeninos artistas, aos pais (muitos, ex-foliões), às professoras, e ao Clubinho, por esse evento especial.

Só lamento não ter como dar os créditos das criações, mas, os pais que se dispuserem, podem ciatr os autores nos comentários.

Tropicalista...

Tropicalista…

Trio Purpurina

Pink total...

Pink total…

CarnaBahia, uma pintura daquele carnaval de 1981.

Trio Traz os Montes - fundo - baixa

Em 1981, o Carnaval de Salvador estava em plena everfescência: talentos surgiam naquele cenário musical proporcionado pelas novas tecnologias que permitiam o canto pleno num Trio Elétrico.  Lui Muritiba, Banda Scorpius –  com Bell, Aderson, Gato… e que depois virou Chiclete com Banana –  Gerônimo, Sarajane e tantos outros novatos se misturavam nas ruas com os já consagrados Morais Moreira, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Novos Baianos com Pepeu, Baby e Paulinho Boca de Cantor, além, é claro, da família Macedo com o paizão de todos, Seu Osmar, e o impagável Armandinho e sua guitarra baiana.

Foi inspirado nesse inesquecível carnaval que fiz a pintura dessa foto na trazeira do Trio Elétrico do Traz-os-Montes, bloco pioneiro e revolucionário em toda essa história do recente carnaval baiano. Pintado com tinta esmalte sobre a chapa de metal do trio, era minha homenagem àquele momento mágico dessa terra em que nasci – aos artistas e aos blocos.

No mês que antecedia a folia, costumava ficar imerso por dias no galpão do bloco, lá no bairro do IAPI. Sujo de tinta até à medula, era um misto de decorador, carregador de caixa de som e “opinólogo geral”. Aliás, todos nós – técnicos de som, chapistas, diretores do bloco, eletricistas, motorista, músicos –  fazíamos de tudo. Pra dar um molho nessa festa, ao lado do galpão, tinha o nosso querido Satuba, que preparava uma moqueca de arráia especial acompanhada de uma batida de limão tipicamente baiana: com mel.

Valeu à pena.

Maquete do Trio do Papa / Claudia Leitte.

MAquete Trio Babado Novo 2005

Há uns dez anos fiz essa experiência de apresentar a maquete de um trio elétrico, na escala 1:60, junto a um projeto de captação de patrocínio. A ideia era reaproveitar a mesma maquete, trocando apenas as marcas, para reapresentá-la a outros potenciais patrocinadores. Mas na prática, a ideia foi um fiasco porque a maquete não retornou nem da primeira apresentação.

Valeu a experiência e aventura de construir essa miniatura.

Camarote do Nana, uma Paixão.

Nova marca para o Camarote do Nana

Nova programação visual do Camarote do Nana é uma simbiose da sua tradicional marca, a”bananeira”, com um coração, simbolo da paixão dos foliões pelo camarote que tem o carnaval nas veias.

O Camarote do Nana reúne glamour e sofisticação, mas sem perder o toque baiano e a essência do carnaval. All inclusive, tem as melhores opções de gastronomia, com restaurantes de comida japonesa, churrascaria e pizzaria, além de um serviço inigualável de bebidas. A Pracinha do Camarote do Nana, na área central, é um show à parte: um verdadeiro carnaval com muita festa e animação. Outra opção é o acesso á praia com shows e boate. Vale à pena.

Um Curto Circuito.

Curto Circuito Carnaval de Trio Elétrico

Há uns 8 anos fiz esse estudo para um “mini circuito” a ser construído numa área distante de grandes centros. Inspirada no Carnaval de Salvador, a ideia tentava recriar alguns ambientes icônicos da festa baiana e sugerir outros que, além de servirem de “ponto” para as diversas tribos da folia, também prestassem uma justa homenagem a lugares, a exemplo de Itapuã, movimentos como a Tropicália e a personagens como a dupla Dodô & Osmar.

Um Dragão na Folia.

Trio Asa 2013 - Cabeça de Drgão - Fotos Rua
Sempre gostei da alegoria no Carnaval e, esse ano, contei com o apoio de Durval Lelys e Marcelo Brasileiro, além de toda a equipe de trabalho – escultor, fibreiro, pintor e plotador –  para produzir essa “brincadeirinha” no Trio Dragão da Folia, palco da Banda Asa de Águia na festa em Salvador.

Foram duas semanas para esculpir, preparar o molde, pintar e adaptar ao “cavalinho” do trio. Mas o melhor resultado foi fazer a alegria de quem curtiu. Abaixo, passo a passo do processo criativo à produção.

Trio Asa 2013 - Cabeça de Drgão - make in off

Em tempos de carnaval baiano…

Caetano e Gil, em tempos de carnaval baiano.

O Trio e o Patrocinador – II

Projetos de Trios Elétricos - Camaleão Varig e Crocodilo C&A

O projeto da Varig ficou só no papel, mas o do Crocodilo saiu.

Depois do sucesso de captação de projetos como Crocodilo/C&A em 1991, Pinel/Consul, Beijo/Coca-Cola e Cheiro/Pepsi em 1992, começaram a surgir idéias mirabolantes para atrair o patrocinador para o Carnaval de Salvador. Muitos projetos ficaram só nas idéias, mas outros, como o Trio do Crocodilo com uma enorme boca abrindo e fechando na frente do Trio foi realizado com sucesso.

A maioria desses projetos eram ilustrados com a técnica “aerografia”, que utilizava um tipo de caneta spray, hoje equivalente ao “brush” no Photoshop. Eram muitas horas de paciência para recortar as máscaras com um bisturi e muita tinta colorindo o pulmão.

Projetos de Trio Elétrico - Eva Vasp

Outro projeto que não decolou.

O Trio e o Patrocinador – I

Projetos de Trios Elétricos - Cheiro Pepsi e Pinel Consul

Dois dos projetos aprovados para o Carnaval de 1992.

Pelo que conta a história, o Trio Elétrico já nasceu com patrocinador, mas, na minha memória, a imagem do Trio Elétrico da aguardente “Saborosa”, em forma de garrafa nos anos 1960, é a campeã. Até os anos 1990, porém, na maioria das vezes o Trio Elétrico trazia várias marcas de patrocinadores perdidas em meio à decoração, sem muito impacto junto ao folião. Com o Trio da Saborosa na cabeça e um problema nas mãos, que era aumentar a captação dos valores de patrocínio para os blocos na época, a partir de 1991, propus glamourizar a visibilidade do patrocinador no Trios Elétricos. O Primeiro projeto nessa linha foi o Trio Crocodilo / C&A, com o apoio de Fred Boat, que obteve grande receptividade junto ao patrocinador e virou referência para outros que viriam, como o do Bloco Pinel, onde propomos colocar um ar-condicionado na frente do Trio e aumentamos o patrocínio em 5 vezes.

Projeto de Trio Elétrico - Crocodilo C&A - Carnaval 1991

Projeto de Trio do Crocodilo/C&A para o Carnaval 1991.

A rEvolução dos Trios Elétricos.

Vendo estas fotos em meus arquivos, me chamou a atenção o fato delas representarem, de forma bem clara, três momentos que simbolizam a virada tecnológica dos Trios Elétricos, o que viria a provocar mudanças profundas no cenário musical e cultural da Bahia. Também é curioso o fato dessas fotos serem de três anos seguidos – 1979, 1980 e 1981 – e pertecerem ao mesmo bloco, no caso, o Traz os Montes.

Trio do Traz os Montes/Tapajós em 1979

Em 1979, as "bocas sedãs" predominavam no trio e a percurssão era em baixo.

Vejamos: na primeira foto, de 1979, o Trio do Bloco Traz os Montes era na verdade um reserva do Trio Tapajós. Ainda predominavam as chamadas “boca sedã”, tipo de propagador de som em forma de cone. Haviam apenas umas duas pequenas caixas de som na frente e nas laterais e os amplificadores ainda eram do tipo valvulados. Curiosamente, podemos ver a figura de Bell, cantor da Banda Scorpius, atual Chiclete com Banana, tocando uma guitarra no final da parte superior do trio, e toda a percurssão em baixo, na lateral, como era tradição em todos os trios da época.

Trio do Traz os Montes 1980

Traz os Montes e 1980, o primeiro trio totalmente transistorizado com caixas de som.

Já na foto acima, de 1980, vemos o primeiro Trio Elétrico totalmente transistorizado e utilizando unicamente caixas de som e cornetas “Snake” e não mais as “bocas sedãs”. Esse Trio Elétrico do Traz os Montes foi uma revolução estrondosa, literalmente. Ninguém, até então, ouvira um som com tanta qualidade, fruto da inventividade dos jovens diretores do Bloco Traz os Montes e dos técnicos de som Wilson Marques e Miller. Nessa foto, eu apareço de short vermelho conversando com Rey, baterista da banda, além de Alexandre, meu primo, e Wilson, o barbudo em cima do trio. Esse foi meu primeiro trabalho de decoração, executado na antiga sede da ABB, na Barra.

 
Traz os Montes 1981 - A revolução do Trio Elétrico.

Traz os Montes 1981: pela primeira vez uma banda inteira em cima do trio.

Por último, o trio que fez a maior de todas revoluções quando colocou caixas de som onde antes ficava a percurssão e proporcionando, pela primeira vez, que uma banda completa se apresentasse na parte superior do trio. Percebam que, ao contrário dos dois anteriores, não existe mais aquele vão na lateral do trio. O impacto dessas modificações fez com que esse trio virasse referência para todos os que foram construídos a partir de então, ocasionando o surgimento de várias bandas e artistas que, mais tarde, dariam forma a chamada “axé music”.

O Trio Elétrico Tapajós e Seu Orlando.

 
 
Projeto do Trio Tapajós 2010 inspirado na "Caetanave" de 1972.

Projeto do Trio Tapajós 2010 inspirado na "Caetanave" de 1972.

Com o assombro que as novidades exercem sobre um garoto de 14 anos, vi uma nave espacial desfilar pela Avenida Sete num inesquecível e mágico dia do carnaval de 1972. Lembro das formas arrojadas, das luzes, dos vidros verdes deixando transparecer o ambiente tecnológico de onde reluzia um objeto de última geração e desejo: uma tv portátil. Aquela imagem ficou gravada para sempre e me fez supor de que poderíamos criar qualquer coisa, mesmo que sobre um simples trio elétrico. Que nem aquela “Caetanave”.

Corto para 1980, galpão do Trio Tapajós, em Paripe. Eu, de cima de um andaime onde decorava o trio do Traz os Montes, observava, ao lado, um homem agitado que gesticulava como um maestro compondo sua criação em meio à toda aquela ferragem, barulho e meia dúzia de soldadores e ajudantes. Ele, olhando para o vazio à sua frente, parecia enxergar linhas e traçados que só ele via. Estava construindo, do zero, seu mais novo Trio Elétrico Tapajós. Não havia planta, só um projeto na cabeça. E, dirigindo seu dedo para pontos invisíveis aos não iniciados em sua arte, gritava: ponha um ferro alí, outro lá… naquele instante, imaginei como ele teria construído aquela “Caetanave” que me encantara há quase uma década e que, segundo ele, proporcionou pela primeira vez a experiência de alguém cantar no trio. Mais precisamente, Caetano Veloso com sua recente “Chuva, Suor e Cerveja”. Definitivamente, tratava-se de um empreendedor excêntrico. Só mais tarde conhecí o sonhador.

Ouso dizer que Seu Orlando, do Trio Tapajós, foi tão importante quanto Dodô & Osmar para a história do Trio Elétrico. A dupla inventou a pequena “fubica” para se divertir, mas foi Seu Orlando Campos quem alimentou e deu musculatura àquela criação. Foi quem desenvolveu as carrocerias de metal para os trios, tornou-os maiores e mais potentes… e, com sua visão empresarial, fez dessa parafernália ambulante um atrativo para os patrocinadores.

Ano passado, ele me solicitou um projeto visual para seu querido Trio Tapajós que relembrasse a maior de suas criações: a Caetanave – sua homenagem ao retorno de Caetano Veloso e Gil do exílio em 1972. Desenvolvemos com ele o projeto acima, mas, infelizmente, Seu Orlando não conseguiu o apoio suficiente, nem os recursos. Apesar da idade avançada, das dificuldades financeiras, ele continua o mesmo idealista e sonhador que ajudou a criar e dar forma a essa poderosa máquina chamada trio elétrico, que promoveu e viabilizou a carreira de tantos grandes artistas da música baiana.

Loucuras engavetadas (2)

Mini-trio Beijoca

Mini-trio Beijoca

Dando proseguimento à série de idéias que nasceram para virar comida de traças… ou de virus… rsrs… resgato mais essas duas pérolas do anonimato e do inevitável lixo. O mini-trio “Beijoca” me foi encomendada para a Banda Beijo, na época com a cantora Gilmelândia. Já a o “Porreta” foi para o grupo Babado Novo que deu início a carreira de Claudia Leitte. Âmbas foram pensadas há mais de 8 anos, na esteira do sucesso da Trivela, formato de evento criado por Durval Lelys, em 1998, que tem um mini-trio como característica principal.

Como tantas outras elocubrações, essas também rondam perdidas, como zumbits, no ciberespaço.

Trio "Porreta"

Trio "Porreta"

Pinel de Flash Gordon – Carnaval de 1988

Trio do Bloco Pinel no carnaval de 1988.

Trio do Bloco Pinel no carnaval de 1988.

Ao som de “Pinel de Flash Gordon”, composição de Durval Lelys, o Bloco do Pinel fervilhava no carnaval de 1988. Era a estréia de Durvalino como vocalista da Banda Pinel que mais tarde daria origem ao Asa de Águia. O trio, em tons de azul, combinava com a mortalha que trazia o “maluquinho” símbolo do bloco mais cobiçado na época.

As mortalhas, enormes pedaços de tecido em algodão e impressas em silk-screen, eram símbolo de orgulho para os foliões que as esperavam ansiosamente. Elas identificavam a que “tribo” você pertencia. Ao contrário de hoje, o status de um bloco era mais importante do que o próprio artista ou banda que se apresentaria no trio. Na verdade, ao artista era concedido o privilégio de “puxar” o bloco e comandar a festa da galera. Era fundamental que ele também pertencesse ao grupo que iria comandar. Assim eram os blocos, assim foi o Pinel.

Combinar o tema da fantasia e da decoração do trio com o da música, foi resultado de uma conversa que Durval Lelys teve comigo logo que ele assumiu a banda. Pela primeira vez ví um cantor se preocupar em dar essa visão homogênea ao bloco. O resultado foi o tema “Flash Gordon Pinel”,  juntando música e estética visual. Dessa conversa surgiu também uma parceria que já dura mais de 20 anos.

A mortalha abaixo, marca uma evidente preocupação minha em predominar uma só cor nas fantasias, afim de valorizar o conjunto, mesmo que em detrimento da peça individualmente. Eu entendia que as mortalhas multi-coloridas, quando em conjunto, geravam um efeito pictográfico indefinido, geralmente  um tom amarronzado. Tantos anos depois, vejo, curioso, o meu esforço hilário em colocar tons de azuis até nas figuras humanóides do desenho. Mais curioso ainda foi o fato de que, anos mais tarde, essa minha visão monocromática viria a viabilizar uma outra idéia que foi um abadá para cada dia no Bloco Cheiro. Seria impossível, do ponto de vista da segurança do bloco, três abadás multi-coloridos. Para os mais novos, lembro que, até 1997, o folião recebia uma só fantasia para os três dias de carnaval. A criação dos três abadás também viabilizou a venda individualizada dos dias dos blocos como fazem a atuais centrais de vendas.

Mortalha do Bloco Pinel no carnaval de 1988.

Mortalha do Bloco Pinel no carnaval de 1988. Pano de sobra.

Loucuras engavetadas…

Projetos Trio Elétrico para o Bloco Skol

Viajei legal nesse primeiro trio...

Todo mundo que vive do trabalho criativo certamente já engavetou alguma idéia. Vez por outra, vasculhando arquivos, encontro uma. Hoje encontrei essa belezura, um trio elétrico muito louco que fiz para minha amiga Alice Coelho apresentar ao Bloco Skol. Ainda bem que eles não aprovaram, porque nem eu sei como realizar isso aí, rsrsrs…