Projeto do Trio Tapajós 2010 inspirado na "Caetanave" de 1972.
Com o assombro que as novidades exercem sobre um garoto de 14 anos, vi uma nave espacial desfilar pela Avenida Sete num inesquecível e mágico dia do carnaval de 1972. Lembro das formas arrojadas, das luzes, dos vidros verdes deixando transparecer o ambiente tecnológico de onde reluzia um objeto de última geração e desejo: uma tv portátil. Aquela imagem ficou gravada para sempre e me fez supor de que poderíamos criar qualquer coisa, mesmo que sobre um simples trio elétrico. Que nem aquela “Caetanave”.
Corto para 1980, galpão do Trio Tapajós, em Paripe. Eu, de cima de um andaime onde decorava o trio do Traz os Montes, observava, ao lado, um homem agitado que gesticulava como um maestro compondo sua criação em meio à toda aquela ferragem, barulho e meia dúzia de soldadores e ajudantes. Ele, olhando para o vazio à sua frente, parecia enxergar linhas e traçados que só ele via. Estava construindo, do zero, seu mais novo Trio Elétrico Tapajós. Não havia planta, só um projeto na cabeça. E, dirigindo seu dedo para pontos invisíveis aos não iniciados em sua arte, gritava: ponha um ferro alí, outro lá… naquele instante, imaginei como ele teria construído aquela “Caetanave” que me encantara há quase uma década e que, segundo ele, proporcionou pela primeira vez a experiência de alguém cantar no trio. Mais precisamente, Caetano Veloso com sua recente “Chuva, Suor e Cerveja”. Definitivamente, tratava-se de um empreendedor excêntrico. Só mais tarde conhecí o sonhador.
Ouso dizer que Seu Orlando, do Trio Tapajós, foi tão importante quanto Dodô & Osmar para a história do Trio Elétrico. A dupla inventou a pequena “fubica” para se divertir, mas foi Seu Orlando Campos quem alimentou e deu musculatura àquela criação. Foi quem desenvolveu as carrocerias de metal para os trios, tornou-os maiores e mais potentes… e, com sua visão empresarial, fez dessa parafernália ambulante um atrativo para os patrocinadores.
Ano passado, ele me solicitou um projeto visual para seu querido Trio Tapajós que relembrasse a maior de suas criações: a Caetanave – sua homenagem ao retorno de Caetano Veloso e Gil do exílio em 1972. Desenvolvemos com ele o projeto acima, mas, infelizmente, Seu Orlando não conseguiu o apoio suficiente, nem os recursos. Apesar da idade avançada, das dificuldades financeiras, ele continua o mesmo idealista e sonhador que ajudou a criar e dar forma a essa poderosa máquina chamada trio elétrico, que promoveu e viabilizou a carreira de tantos grandes artistas da música baiana.