Arquivo da categoria: blocos de trio

A história da marca do Camaleão

Vídeo sobre como surgiu a tradicional marca da “pata” do bloco Camaleão, com depoimentos de Bell Marques e diretores do Camaleão e Crocodilo.

Uma história de Natal.

Cartão Cristo PinelA intenção desse cartão de Natal do Bloco do Pinel era a melhor possível: chamar atenção para o verdadeiro sentido da festa que é o nascimento de Cristo. Mas de boas intenções, como se diz por ai, o inferno está cheio. Era início dos anos 90, acho que 1993, e eu acabara de iniciar na computação gráfica. Aliás, essa foi a minha primeira ilustração num computador, no programa paintbrush, imaginem. Empolgados com a ideia, eu e Julio Mota, co-autor do texto e, na época, diretor do Pinel, resolvemos levar a ideia para um outdoor e, evidente, a mensagem teve que ser encurtada porque todo esse texto não caberia numa mídia de rua. Então, resolvemos publicar só a imagem e o título “Ele também foi chamado de louco” e, óbvio, – hoje em dia para mim – que aquilo tinha tudo para criar polêmica. Mas, naquele tempo, achávamos que podíamos tudo. Dias depois, veio a resposta: através de matéria na capa do Jornal A Tarde, o Arcebispo Dom Lucas Moreira Neves excomungou os criadores daquela blasfêmia, daquele Cristo psicodélico, e, implicitamente, nos condenou ao fogo do inferno. Mas não foi só isso, alguns outdoors também foram queimados por evangélicos. E toda essa confusão porque, num desses papos inúteis de cachaça, dois pretensiosos acharam um absurdo que toda mensagem natalina só trouxesse imagem de Papai Noel e árvore de Natal. Depois de atingir o perfeito teor etílico, tomamos a decisão de mudar isso… e o mundo, claro.

Passado uma ano dessa história, junto com a garotada que trabalhava nos blocos, resolvemos organizar uma festa beneficente reunindo os grandes nomes da música de Salvador. A festa se chamaria Axé Natal e ocorreria no Club Bahiano de Tênis. Pela primeira vez cantariam juntos Durval do Asa de Águia e Bell do Chiclete, Netinho, Ricardo Chaves e Márcia Freire, do Cheiro. Também Margareth Menezes e Vânia Abreu participaram. Foi um sucesso. Arrecadamos em torno de 14 mil latas de leite em pó. Porém, para ceder o Club Bahiano de Tênis sem nenhum ônus, Luiz Catarino, o então presidente, me pediu uma condição: que metade do que fosse arrecadado, doássemos para a Fundação Dom Avelar. E assim o fiz. O responsável pela Fundação era ninguém menos que Dom Lucas Neves, o excomungador, e ele, óbvio, não tinha a menor ideia que o idealizador da festa era o mesmo a quem ele havia excomungado ano antes. À pedido dele, deixamos as doações na sala da Casa Episcopal, no Campo Grande. Acho que o Arcebispo não tinha ideia do que seriam 7 mil latas de leite mal arrumadas dentro de caixas de papelão. O saudoso Elmar me trouxe uma foto da montanha de caixas que deixou na sala de Dom Lucas. Dias depois, recebi uma carta do mesmo me agradecendo pela iniciativa do evento e pelos donativos.

Até hoje tenho a matéria do jornal onde ele me excomunga e a carta onde ele me agradece as doações. Não sou religioso, mas por vias das dúvidas, vou pedir que enterrem comigo. Vai que lá tem um STF.

Camaleão camuflado – na gaveta

Camaleão Camuflado
Qualquer cidadão que trabalhe – ou trabalhou – no campo da criação, sabe do que vou falar: as ideias que se descartam, se perdem ou se esquecem nas gavetas – hoje virtuais.

Toda vez que por motivos profissioanais faço alguma busca nos arquivos, termino por encontrar algo que nem mais lembrava que havia criado. Na maioria das vezes só dou uma olhada e retomo à minha atividade. Às vezes, como agora, resgato e posto.

Era uma fantasia para o Bloco Camaleão, mas depois, nem o cliente, nem eu achamos legal. O camaleão mais parecia uma lagartixa. Passado mais de 10 anos, achei a lagartixa muito simpática e resolvi dar vida a ela; mesmo que só uma vida virtual. Vai pro mundo, vai…

Axé, Bell.

Axé, Bell

Homenagem do Bloco Camaleão ao cantor Bell em seu primeiro ano comandando o bloco depois de assumir a carreira solo.

A Bela e a Fera!

Outdoor A Bela e a Fera - Durval Lelys e Claudia Leitte.

Outdoor criado para a campanha de divulgação do Bloco CocoBambu no Carnaval de Salvador 2015.

Inspirado num clássico do cinema, a peça reforça o contraponto desses dois ícones da festa baiana: o irreverente “surfistão” Durval e Lelys e a performática e estilosa Claudia Leitte. Seus públicos também são opostos, tornando o CocoBambu um bloco distinto a cada dia, numa democracia momesca.

Contei também com o talento de Marianna Vilas Boas e a aprovação de Paulinho Xoxoto e Ricardo Lelis.

PS. esse título já tinha sido utilizado numa campanha do Crocodilo com Daniela Mercury em 1997.

Me Abraça, Durval!

Durval Lelys

Durval Lelys vai comandar o Bloco Me Abraça, no Circuito Barra-Ondina, durante os dias de domingo, segunda e terça do Carnaval 2015.

Será seu primeiro carnaval assumindo a carreira solo, depois de 25 anos à frente da Banda Asa de Águia.

Campanha criada pela Da Rocha propaganda e aprovada por Ricardo e Nei Ávila.

CarnaBahia, uma pintura daquele carnaval de 1981.

Trio Traz os Montes - fundo - baixa

Em 1981, o Carnaval de Salvador estava em plena everfescência: talentos surgiam naquele cenário musical proporcionado pelas novas tecnologias que permitiam o canto pleno num Trio Elétrico.  Lui Muritiba, Banda Scorpius –  com Bell, Aderson, Gato… e que depois virou Chiclete com Banana –  Gerônimo, Sarajane e tantos outros novatos se misturavam nas ruas com os já consagrados Morais Moreira, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Novos Baianos com Pepeu, Baby e Paulinho Boca de Cantor, além, é claro, da família Macedo com o paizão de todos, Seu Osmar, e o impagável Armandinho e sua guitarra baiana.

Foi inspirado nesse inesquecível carnaval que fiz a pintura dessa foto na trazeira do Trio Elétrico do Traz-os-Montes, bloco pioneiro e revolucionário em toda essa história do recente carnaval baiano. Pintado com tinta esmalte sobre a chapa de metal do trio, era minha homenagem àquele momento mágico dessa terra em que nasci – aos artistas e aos blocos.

No mês que antecedia a folia, costumava ficar imerso por dias no galpão do bloco, lá no bairro do IAPI. Sujo de tinta até à medula, era um misto de decorador, carregador de caixa de som e “opinólogo geral”. Aliás, todos nós – técnicos de som, chapistas, diretores do bloco, eletricistas, motorista, músicos –  fazíamos de tudo. Pra dar um molho nessa festa, ao lado do galpão, tinha o nosso querido Satuba, que preparava uma moqueca de arráia especial acompanhada de uma batida de limão tipicamente baiana: com mel.

Valeu à pena.

Faraó na Folia II

Detalhe das costas da fantasia do bloco Me Abraça (Banda Asa de Águia) para o Carnaval 2014. Com Tiago Nunes no apoio.

Abada Me Abraça vermelho - JPEG ok

Faraó na folia.

Detalhe da fantasia do Me Abraça (bloco da banda Asa de Águia).  Contei com o apoio fundamental de Tiago Nunes.

Abada Me Abraça amarelo - JPEG ok

Ilustrações para o Cheiro I

Abadá Cheiro 2014 - domingo - Baixa ok

Fantasia Carnaval 2014.

“Merda pra vocês!”

Capa do disco "Sementes" Chiclete com Banana

Normalmente criadas pelos geniais Renatinho da Silveira e Nildão, as capas de discos da banda Chiclete com Banana eram obras de arte; suas ilustrações lúdicas e inteligentes  eram grande inspiração para mim quando ia decorar o Trio Elétrico do Chiclete naqueles anos 80. Mas essa capa do disco “Sementes”, ainda na era do vinil e das guitarras de Missinho, Jhonny e da percussão de Rubinho, foi uma exceção esdrúxula, quase cômica.

Nessa época, tinha uma relação próxima com Wadinho – tecladista, sócio do Chiclete e irmão de Bell. Era comum ele me apanhar de carro em casa para que fosse decorar seu trio elétrico no galpão que tinham na distante Cajazeiras 11, e, nessas “viagens”, o papo rolava solto: artistas, estratégias, marketing…

Um dia, com ares de urgência típica de quem tem um problemaço,  Wadinho aparece trazendo na mão uma foto, tipo lambe-lambe, do grupo Chiclete com Banana –  provavelmente tirada em algum daqueles estúdios que faziam fotos para carteira de identidade, família, etc – e me relatou seu drama: “Preciso de você, irmão: a gravadora pediu que enviasse a arte de uma capa para o novo disco ainda hoje.” Meio perplexo e sem entender, indaguei: e Nildão? “Está de férias na Europa”, disse Wadinho, e completou: “Bicho, preciso que você resolva isso para mim agora!”. Eu também tinha um enorme problemaço: no prédio onde morava, no antigo centro de Salvador, a tubulação do esgoto havia entupido na altura do 4º andar, e meu apartamento, que era no 5º, passou a receber todos os dejetos dos andares acima que, como num filme de terror, transbordavam pelos ralos e vasos. Literalmente, meu apartamento sofrera uma invasão merdiana. Como nessa época eu trabalhava em casa: mesa, tintas, pincéis, esquadros, réguas e toda a parafernália da era pré-digital estavam lá. Mas Wadinho nem quis saber: “Daremos um jeito, vamos nessa.” E lá fomos nós enfiados numas galochas de borracha participar daquela aventura.

Criar e finalizar uma capa numa tarde é difícil mesmo hoje com toda tecnologia. Imagine naquelas condições e com uma foto “meia boca” nas mãos. Antes da era digital, para obter qualidade, trabalhávamos com “cromos” e não fotos impressas em papel. Mas como não tinha outro jeito, sai recortando literalmente na tesoura, não só a foto, mas também umas imagens de sementes de um velho livro de ciências que achei em casa, além de papeis coloridos e os logos do Chiclete, gravadora, etc. Montei tudo com cola Tenaz sobre um cartolina que havia colorido com lápis de cera. O trabalho maior foi a marca do Chiclete que, fruto de uma xerox reduzida, tive que avivar com uma caneta nanquim. Tudo colado, tudo pronto, peguei uma cartela de LetraSet – quem lembra? – e transferi, letra por letra, o título “Sementes” e pensei: não acredito que estou fazendo isso. Na minha primeira oportunidade de fazer uma capa, fiz aquilo. E logo para quem, para o Chiclete, que tinha como referência capas maravilhosas da dupla Nildão e Renatinho. Tinha acabado de fazer uma capa “à facão”, no sentido mais fiel da expressão. Mas Wadinho achou tudo lindo e disse que não tinha mais tempo; era aquilo mesmo. Envelopamos e mandamos para a gravadora. Seja o que Deus quiser.

Caminho obrigatório para quem morava no Centro, passava todo dia pela Avenida Sete, onde as lojas “A Modinha” e “Akydiscos” costumavam ostentar as capas de disco em mostruários voltados para a rua. Um belo dia lá estava ela, olhando para mim; passei uns dois anos virando o rosto pro lado contrário das lojas afim de não ver aquilo. Mas ela continuava lá, insistente: é que  independente de minha indignação, o álbum foi um grande sucesso.

Desde quando ainda era Banda Scorpius, no bloco Traz os Montes entre 1979 a 1981, a Banda Chiclete com Banana sempre me surpreendeu: primeiro por fugir ao estereótipo do “artistão”, do “maluco beleza” tão em voga naquela época pós hippie; pontuais e profissionais, não havia espaço para o acaso. E segundo porque sempre vi os caras pensarem o grupo com uma visão de estratégia empresarial e mercadológica, algo inexistente na época por essas bandas. Lembro de que quando eles saíram do bloco Traz os Montes e eu fui decorar, pela primeira vez, um trio do próprio Chiclete, todos eles participavam ativamente carregando caixas de som, envolvidos com a parte sonora, eletrônica, estrutura da carroceria, iluminação e, para meu alívio, até na pintura me deram uma mãozinha.

Independente dos que torcem o nariz para a banda, o Chiclete é um caso de sucesso raro: são mais de 30 anos no topo. Para um grupo musical, isso é incomum em qualquer lugar do mundo.

Típica do meio teatral, a expressão “merda pra vocês!” significa o desejo de que determinado evento redunde em grande sucesso. A expressão tem origem na Europa do século 19, quando as peças teatrais que alcançavam grandes públicos, por conta do intenso tráfego de carruagens e cavalos, enchiam de estrume a frente dos teatros.

O título dessa postagem também traduz o desejo de sucesso, em suas novas caminhadas, para esses eternos ícones – gostem ou não – do carnaval baiano: Bell, Wadinho, Wilson, Rey, Denny e Valtinho.

Valeu, caras!

Um disco que mudou tudo.

Uma capa para história.

Quando Totó,  na minha opinião o maior empreendedor e visionário do carnaval baiano, resolveu produzir o primeiro disco da banda Pimenta de Cheiro – antigo nome da Banda Cheiro de Amor – certamente o mercado da música baiana era completamente diferente do que se tornaria alguns anos depois.

Esse disco acima, gravado com Márcia Freire no vocal e o maestro Zé de Henrique, teve produção local do selo Stalo, de Ricardo Cavalcanti, e foi o primeiro grande sucesso de um formato musical que mais tarde viria a ser conhecido como axé music.

Curiosamente, até a capa ser finalizada, a banda ainda se chamava Pimenta de Cheiro. Na hora de mandar produzir o vinil na gravadora Poligram, Totó, desesperado, me veio com a notícia bombástica de que alguém tinha registrado o nome da banda e ele não poderia mais utilizá-lo, a não ser que conseguisse negociar com o “dono” de registro, o que poderia levar tempo. Sugeri que colocasse, provisoriamente, o nome “Banda Cheiro de Amor”, numa alusão ao nome do bloco e ele topou. Um redator amigo meu, Bonetti, teve uma sacada genial e sugeriu que colocássemos “Pimenta de Cheiro” como nome artístico do álbum, um ardil para manter a associação com o nome original do grupo, enquanto a tal pendenga fosse resolvida. Terminou que o disco vendeu 30 mil cópias – número de sucesso para a época – e o nome da banda ficou pra sempre “Cheiro de Amor”.

Produzi essa foto com meu grande amigo e fotógrafo Carrilho, utilizando um pequeno cromo de 35 mm, sob a luz natural da rua, na Ladeira da Fonte. A pimenta foi comprada num mercado ali no Forte de São Pedro. Na verdade, pimentas, pois “o modelo” é resultado da junção de duas: talo de uma, corpo de outra. O teclado era um Korg e a tecla, para ficar rebaixada, prendíamos com fita durex.  A “armengagem” descolou umas 3 vezes, jogando a pimenta lá pro alto, e cada vez tínhamos que remontar tudo de novo. A verba era quase nada; o sol de Salvador, escaldante; a pressão, pior ainda, mas o trabalho ganhou o Troféu  Caymmi de “Melhor Capa”, e eu e o velho Carrilho rimos muito de tudo aquilo tomando uma branquinha, a de sempre.

Dodô: 100 anos do inventor da Guitarra Baiana.

Dodô, 100 anos do inventor da Guitarra Baiana.

Fosse ele um gringo, seria mundialmente famoso: Adolfo Nascimento, mais conhecido como Dodô, se vivo estivesse, completaria 100 anos. Inventor da Guitarra Baiana – ou da própria guitarra, já que ocorreu no mesmo período do outro inventor, o americano Fender – seu invento inspirou artistas como Caetano Veloso, Moraes Moreira, Armandinho, Pepeu Gomes, Luiz Caldas e toda uma geração surgida em cima do trio elétrico. Seria uma justa homenagem ser seu centenário tema do próximo carnaval.

Dodô também foi o criador do Trio Elétrico, junto com seu parceiro Osmar Macedo.

Um Curto Circuito.

Curto Circuito Carnaval de Trio Elétrico

Há uns 8 anos fiz esse estudo para um “mini circuito” a ser construído numa área distante de grandes centros. Inspirada no Carnaval de Salvador, a ideia tentava recriar alguns ambientes icônicos da festa baiana e sugerir outros que, além de servirem de “ponto” para as diversas tribos da folia, também prestassem uma justa homenagem a lugares, a exemplo de Itapuã, movimentos como a Tropicália e a personagens como a dupla Dodô & Osmar.

Um Dragão na Folia.

Trio Asa 2013 - Cabeça de Drgão - Fotos Rua
Sempre gostei da alegoria no Carnaval e, esse ano, contei com o apoio de Durval Lelys e Marcelo Brasileiro, além de toda a equipe de trabalho – escultor, fibreiro, pintor e plotador –  para produzir essa “brincadeirinha” no Trio Dragão da Folia, palco da Banda Asa de Águia na festa em Salvador.

Foram duas semanas para esculpir, preparar o molde, pintar e adaptar ao “cavalinho” do trio. Mas o melhor resultado foi fazer a alegria de quem curtiu. Abaixo, passo a passo do processo criativo à produção.

Trio Asa 2013 - Cabeça de Drgão - make in off