Vendo estas fotos em meus arquivos, me chamou a atenção o fato delas representarem, de forma bem clara, três momentos que simbolizam a virada tecnológica dos Trios Elétricos, o que viria a provocar mudanças profundas no cenário musical e cultural da Bahia. Também é curioso o fato dessas fotos serem de três anos seguidos – 1979, 1980 e 1981 – e pertecerem ao mesmo bloco, no caso, o Traz os Montes.
Em 1979, as "bocas sedãs" predominavam no trio e a percurssão era em baixo.
Vejamos: na primeira foto, de 1979, o Trio do Bloco Traz os Montes era na verdade um reserva do Trio Tapajós. Ainda predominavam as chamadas “boca sedã”, tipo de propagador de som em forma de cone. Haviam apenas umas duas pequenas caixas de som na frente e nas laterais e os amplificadores ainda eram do tipo valvulados. Curiosamente, podemos ver a figura de Bell, cantor da Banda Scorpius, atual Chiclete com Banana, tocando uma guitarra no final da parte superior do trio, e toda a percurssão em baixo, na lateral, como era tradição em todos os trios da época.
Traz os Montes e 1980, o primeiro trio totalmente transistorizado com caixas de som.
Já na foto acima, de 1980, vemos o primeiro Trio Elétrico totalmente transistorizado e utilizando unicamente caixas de som e cornetas “Snake” e não mais as “bocas sedãs”. Esse Trio Elétrico do Traz os Montes foi uma revolução estrondosa, literalmente. Ninguém, até então, ouvira um som com tanta qualidade, fruto da inventividade dos jovens diretores do Bloco Traz os Montes e dos técnicos de som Wilson Marques e Miller. Nessa foto, eu apareço de short vermelho conversando com Rey, baterista da banda, além de Alexandre, meu primo, e Wilson, o barbudo em cima do trio. Esse foi meu primeiro trabalho de decoração, executado na antiga sede da ABB, na Barra.
Traz os Montes 1981: pela primeira vez uma banda inteira em cima do trio.
Por último, o trio que fez a maior de todas revoluções quando colocou caixas de som onde antes ficava a percurssão e proporcionando, pela primeira vez, que uma banda completa se apresentasse na parte superior do trio. Percebam que, ao contrário dos dois anteriores, não existe mais aquele vão na lateral do trio. O impacto dessas modificações fez com que esse trio virasse referência para todos os que foram construídos a partir de então, ocasionando o surgimento de várias bandas e artistas que, mais tarde, dariam forma a chamada “axé music”.